As relações entre Portugal e Roma durante a primeira metade do século XVIII, grosso modo coincidente com o reinado de D. João V (1706-1750), caracterizam-se pela complexidade, assumindo-se como um elaborado mosaico, no qual, com facilidade, se identificam as linhas gerais da composição, mas cuja plena leitura e compreensão depende do reconhecimento do papel de cada tessela nessa mesma composição, identificando-se linhas de leitura diacrónica e sincrónica, bem como múltiplas vertentes nas quais se declina a narrativa do dito mosaico.
É neste contexto, de intenso relacionamento, sobretudo cultural e artístico, entre Portugal e Roma durante o século XVIII e em particular no que à primeira metade da centúria concerne, que se enquadra o conjunto de seis estudos que constituem o presente volume. A abordagem desenvolvida é a de um historiador de arte, pelo que a perspectiva é inevitavelmente direccionada para a arte, sendo merecedor do nosso interesse tudo o que é enquadrável na produção e nas manifestações artísticas.
Contudo, reconhece-se, sem dúvida, como constante pano de fundo, o tecido político-diplomático. Com efeito, a complexa teia e trama das relações diplomáticas entre os dois estados, Portugal e o Estado Pontifício, está recorrentemente presente, ainda que percepcionada de forma directa ou indirecta.
O que em todos os textos nos interessa tratar é o que considerámos ser trânsitos e permanências. Ao longo dos seis estudos abordam-se temas específicos, tendo sempre como referentes do nosso discurso quem ou o que se encontra em trânsito entre Roma e Lisboa, e quem ou o que permanece, em Roma ou em Lisboa.
Como se constatará, circulam pessoas, obras de arte, palavras, modelos, desenhos, os mesmos que, uma vez chegados ao destino, ali permanecem, tendo transportado consigo diferentes visões, inéditos objectos, novidades, constituindo-se assim como motores ou agentes da inevitável evolução da criação artística e do gosto.