Domingos Vandelli (1764-1816) veio de Itália para Portugal a convite do Marquês de Pombal no âmbito das Reformas levadas a cabo pelo estadista. Leccionou na Universidade de Coimbra e foi um Iluminista notável, ligado a muitas áreas do saber. Serviu Portugal em diversos organismos, entre os quais, dirigindo os Jardins Botânicos da Ajuda e de Lisboa. Estudou as riquezas naturais portuguesas e, numa perspectiva fisiocrata, defendeu a sua aplicação para a indústria. Defensor do desenvolvimento da ciência aliado à técnica leva-o, naturalmente, a ser um dos fundadores da Academia das Ciências de Lisboa.
Toma de arrendamento as antigas instalações da fábrica da telha da Universi- dade de Coimbra entre 1781 e 1788 e, aplicando os seus conhecimentos e as descobertas ocorridas nas experiências levadas a cabo, sob sua orientação, no Laboratório Químico da Universidade de Coimbra fundou, em 1784, a Fábrica do Rossio de Santa Clara. Desenvolveu incontornável linha de produção cerâmica, sendo então responsável por um tipo de louça com melhor pasta e vidrado do que se fazia ate então. Criou escola, tendo os traços principais, quer em termos decorativos quer formais, sido seguidos em diversas fábricas fundadas por operários que aprenderam nas suas oficinas do Rossio. De tal ordem que a designação «louça de Vandel», alusiva ao seu nome, ainda recentemente era voz corrente na cidade. Teve uma produção monocromática, a vinoso e uma outra em que a cor era festiva. Foram introduzidas cores até aí não experimentadas, desde o verde-ervilha até ao vermelho-cravo e o cor-de-laranja, em louça doméstica, decorativa e também ligada à farmácia. Algumas formas são rocaille e de grande aparato, ao gosto do que se vê na Europa, ao contrário de outras, de gosto neoclássico.
Em 1786, entra como sócio da novíssima Real Fabrica de Louça no Cavaquinho, em Vila Nova de Gaia. O seu capital na sociedade baseava-se na entrega de várias receitas inédita destacando-se a de louça de pó de pedra, sendo, deste modo responsável pela sua introdução em Portugal. Paliteiros, pratos e terrinas, fontes, tinteiros e cafeteiras são algumas das peças que constituíram a linha de produção dessa unidade empresarial. Igualmente inovador foi a decoração em «arraiado» e a louça de pó-de-pedra preta com douradilhas, nunca anterior- mente feita em Portugal.
Foi ainda responsável por importantes experiências no campo da cerâmica e, entre elas, a porcelana. Pelo seu vasto contributo, afirma-se como uma das mais importantes figuras responsáveis pela evolução da Cerâmica Portuguesa do século XVIII.
Esta obra baseada na Tese de Doutoramento do Autor, profusamente ilustrada ,que é enriquecida com peças únicas de várias coleções, transmite com realismo a actividade de Vandelli em Coimbra e no Porto.