No início do verão de 2009, a Cabral Moncada – Leilões lançou-me um repto. Organizar um livro para antes do Natal, cujas ilustrações representassem as melhores pinturas de barcos (de mar e de rio) e marinhas vendidas por esta leiloeira, desde a sua fundação em 1996. Pretendia-se dar a conhecer obras de pintores portugueses, dos séculos XIX e XX, que estão na mão de particulares.
Apesar de complicado, o desafio não podia ser mais estimulante. Não sendo uma especialista nem em embarcações nem em pintura, tenho, em contrapartida, uma ligação quase umbilical ao mar. Não tanto por viver, desde há muito, em casas, a 500 m da praia mas por a proximidade do oceano me acalmar, me ajudar a encontrar soluções para problemas complicados. Ou me reerguer dos trambolhões da vida num acto amoroso e nem sempre compreendido que nos faz crescer. Desde miúda que vivo com um pé na praia. Mesmo sem entender muito de barcos, acabei por ter amigos ou irmãos que me ensinaram a manobrar um leme ou a içar uma vela.
Organizar, em dois meses, um livro cujo tema central eram quadros de qualidade, proveniência, temas e técnicas tão dispares, era uma tarefa árdua e não isenta de escolhos. Sem nunca ter visto os originais, leiloados há anos, teria de criar, a partir das suas fotografias, um “enredo” que desse consistência às cerca de 130 imagens que queria utilizar.
Cheguei a ponderar escrever pequenas histórias, de raiz, que ficcionassem cada quadro ou grupo de quadros. A falta de tempo para as escrever, levou-me a uma solução mais simples mas, nem por isso, menos atractiva. Com tantos textos magníficos de escritores portugueses acerca do mar, dos rios ou de barcos, porque não utilizá-los? Era a oportunidade para, ao divulgar pinturas quase desconhecidas, relembrar textos notáveis. Como Fialho de Almeida, em finais do século XIX, descrevendo o amanhecer no Tejo ou Raúl Brandão, nas primeiras décadas do século XX, fazendo uma colorida apresentação da ria de Aveiro. Como complemento, textos de enquadramento, biografias dos pintores mais significativos ou histórias relacionadas com os quadros. Sem esquecer excertos de documentação antiga, relatos de viagem de estrangeiros que passaram, ao longo dos séculos, por Portugal e velhos romances de aventuras, com piratas e corsários.